sábado, 18 de agosto de 2007

Cristina, ao vento...

Foto de Cristina Santos

É possível que ela fique um pouco brava comigo, e nisso entra o meu lado aventureiro: vale a pena correr esse risco porque de duas coisas eu tenho certeza. Primeiro, a zanga não vai durar. E segundo, é muito importante que mais e mais gente a conheça. (Portanto, amiga, já pedindo perdão e sentindo-me perdoada, eis você aqui na galeria dos meus mais queridos personagens).

A novela é uma velha mania dos brasileiros... Começou no rádio, entre vozes ultra-dramáticas e sonoplastia em geral assustadora, lá pela década de 30. Na tv, com os anos, acabou sendo elevada às raias de arte e da superprodução. E a maior novela de todos os tempos - que ficou nove meses em cartaz e mobilizou o país inteiro, com direito a um mega-show de encerramento no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro - chamava-se O direito de nascer. Dentre as marcas que deixou na nossa cultura, essa novela imortalizou o nome de sua heroína, Isabel Cristina, a ponto de a atriz que viveu a personagem adotá-lo como seu daí em diante.

Pois a Cristina é, sim, metade Isabel, apesar de às vezes torcer o nariz para o lindo nome. E chegou até mim guiada por sua natural solidariedade; caiu-lhe em mãos uma pergunta qualquer que fiz pela net e ela me trouxe uma resposta. Daí visitamos cada uma o blog da outra e começamos uma amizade além-fronteiras que é, em todos os sentidos, admirável.

A Cris tem tudo o que se pode esperar de uma boa amiga: é atenta, presente, sabe ouvir, dar e receber e nunca, nunca deixa você na mão. É extremamente generosa e sabe exatamente como arrancar um sorriso da gente justo naquelas horas mais pesadas e difíceis. Talentosa na pintura, na palavra e nas artesanias, é capaz de transformar em ouro o menor detalhe despercebido e criar maravilhas o tempo inteiro.

Temos muito em comum, e uma das coisas que nos aproxima é a nossa capacidade de ser fãs. Gosto e assumo esse meu lado, sim. Na verdade, acho que o fenômeno "fã", em suas várias dimensões, merecia um estudo sociológico, com a catalogação dos comportamentos tanto pelo viés psicológico como por seu impacto na cultura e na sociedade.

Sou fã de muita gente, de anônimos, parentes e famosos. De escritores, cientistas, vizinhos, amigos, artistas. É claro que há momentos que favorecem um ou outro, e as formas de sentir são customizadas, mas sempre há os super-especiais. E a Cris apresentou-me o eleito da sua admiração, o Pedro Abrunhosa. E devo agradecer por isso também, além de tudo o mais que a sua amizade me traz.

Quem compraria religiosamente para mim - e guardaria até eu chegar - a imensa coleção de cds de música portuguesa lançada pelo jornal Público? Só ela mesmo. Em Coimbra acompanhou-me, num vento de fazer dó, até a arena dos shows da Queima das Fitas, bem no meio da tarde. E sempre com um sorriso. E mesmo com o pouco tempo que tivemos para conversar e estar juntas, em meio às loucuras da minha viagem, parecia mesmo que nos conhecíamos da vida inteira.

A Cristina vive em Figueira da Foz, cidade de lindo nome que não consegui visitar (ainda!). Gosto desses nomes assim que só Portugal tem, nomes que querem dizer exatamente o que os lugares são. Imagino a seguinte história: na foz do rio (Mondego) deve ter havido uma linda figueira, à sombra da qual alguém descansou, saciou sua sede... e resolveu ficar. E assim passou a chamar o "seu" lugar, eu vivo ao pé da figueira da foz. E pronto! Por que diabos as pessoas insistem em dar às cidades nomes de pessoas, como aqui, onde um lugar chamado Igrejinha virou Getulândia, em homenagem ao presidente Getúlio Vargas, e uma cidade mineira acabou batizada de Ewbanck da Câmara? (Aliás, que me perdoe o homenageado, mas se tivesse nascido em Portugal jamais teria esse nome graças à fantástica lei onomástica do país, felizmente observada com o máximo rigor. Nomes estrangeiros? Nomes absurdos? Jamais!).

A Cris é uma pessoa linda, artística e sensível. Graças a ela tenho navegado nas águas de vários poetas que não conhecia e passei a admirar; e tenho ouvido muitas músicas também. Fiquei feliz por ter cruzado ao seu lado a madrugada fria de Coimbra, recheada pelos sons do Jorge (Palma) e do Pedro (Abrunhosa). Decerto haverá outras, quando o futuro quiser. Mas para já (o por enquanto dos portugueses) ficamos com a alegria dos encontros na net, dos livros e discos que trocamos e o imenso presente da amizade bem cultivada. Ave, Cris!

3 comentários:

Manuel Nunes disse...

Maurette,
Gostei dos seus textos sobre as peregrinações que fez pelo velho Portugal. É pena que não tenha ido à Figueira e, ali ao lado, ao imponente castelo de Montemor.
Sobre a origem do topónimo Figueira da Foz, sim, pode ser algo de parecido com o que diz. Só que em Portugal, por uma profunda crença de raiz popular, ninguém repousa tranquilo à sombra da figueira. Diz-se mesmo que tal sombra é malfazeja, por ter sido numa figueira que se enforcou Judas Iscariote, o traidor de Jesús de Nazaré.
Um abraço,
Manuel Nunes

Anônimo disse...

Só te digo uam coisa:
"enquanto houver caminho, a gente vai continuar"
...
(aCHO que é assim a letra, o artista que me desculpe).


Um grande SARAVÁ pra ti amiga**

bruno cunha disse...

Mais uma bela crónica!
Mas já agora, qual é o blog da Isabel Cristina?