sábado, 26 de maio de 2007

Porto, Porto


Estava a ver que nunca mais conseguia sair do Porto
Tanta gente porreira a meu lado
Quase me fez esquecer
Que tinha mais que fazer
(Jorge Palma, Até eu Voltar)



Não tenho culpa se o Jorge Palma tem sempre algo sob medida, como essa canção aí em cima, pra dar cor à trilha sonora recentemente portuguesa da minha vida.

De fato, sair do Porto - e o fiz por três vezes! - parecia-me sempre impossível. O encontro com a cidade - devo-te essa, Tiago Branco! - foi de amor à primeira vista. De cara apaixonaram-me as vielas escuras, contidas, guardadas. Sim, guardadas como tesouros. O namoro começou mesmo nas escadas do Grande Hotel de Paris, escolhido na internet pela fachada, mas repleto de histórias e charme... Eça de Queiroz hospedou-se lá, Machado de Assis também... O outrora hotel de luxo é hoje um duas estrelas, mas nada tira o prazer de observar suas belas escadas com tapetes vermelhos, os bronzes polidos, de adentrar o salão de café conservado nos mínimos detalhes... Dali, para perder-se de amores, não precisa muito.

Caminhei um nada até a Torre da Igreja dos Clérigos, de onde se avista toda a cidade. Isso, claro, após subir 225 degraus em estreitos corredores. Encarei, aos bufos, parando eventualmente para um rápido recobro. Mas valeu toda a falta de ar: a beleza do antigo e do verde juntos é de estarrecer.

O Porto é especial por muitas razões, mas para mim foi um prazer incomparável observar lojas que conservam-se iguais há mais de cem anos, e pensar que há gente que nunca deixa morrer os hábitos que fazem a alma de um lugar. O Armazém dos Linhos, as Carmelitas... A Brasileira, sim, que lá também tem, o Café Majestic, o Café Guarany (reaberto recentemente no mesmo lugar)...

A Livraria Lello, esta sim, roubou-me mais fôlego do que a subida aos Clérigos. Foi minha porta do tempo. Diante das paredes cuidadosamente esculpidas em madeira, da escada que se abre, depois fecha-se e volta a abrir-se, recoberta de linóleo vermelho, e o teto em rosáceas, os livros a sorrir, bonachões, assentados sobre séculos, o máximo que consegui fazer foi atirar-me a uma cadeira e deixar-me ficar, a não entender, a pouco acreditar naquela beleza toda...

Levei comigo, além do coração cheio, uma pequena e dorida Florbela Espanca. Na bolsa plástica moderna estampada de passado.

Porto do Museu Serralves e suas dicotomias, jardins imperiais e iconoclastas imperiosos, Porto das
francesinhas enormes, impossíveis para um só ser humano... Provei na Versos na Pedra, uma casa simpática na Ribeira onde os clientes, imagina, escrevem de fato versos em mini-lousas que são penduradas à parede... (e claro que deixei lá o meu!)

Em tempo: francesinhas são vastos sanduíches frios feitos com pão-de-forma e recheios vários, recobertos com queijo e um molho especialíssimo, que so há mesmo no Porto.

O mais engraçado é que as francesinhas infantis, menores, só são vendidas a crianças. Não adianta argumentar: mas meu senhor, isto é muito grande, eu não agüento comer! Só mesmo crianças. Para minha sorte existe a feminina, que é metade da normal e, obviamente, só pode ser vendida a senhoras... Homens de pouco apetite, afastai-vos desse lugar!

Porto da Junta Comercial e seu salão árabe, o-mais-contos-de-fadas-que-já-vi-na-vida, dos azulejos da Estação de São Bento, dos jovens universitários metidos em lindos trajes pretos do século 19, das aléias e ladeiras, ladeiras sem fim... Do Taipas-i-Feijão, o restaurante mais sui-generis do mundo, regido pelo intrépido Antonio, poeta e boémio, e sua mulher que compõe maravilhas à mesa...

Mas já chega de tanta paixão. Até o Tiago e a Soraia, os queridos amigos que me deram de presente um pouco da sua cidade, já devem estar fartos.

Fica pra um próximo capítulo, pois com certeza há mais Porto dentro de mim do que sonha a minha vã filosofia nesse momento.

3 comentários:

Miguel Silva disse...

Porto, uma grande cidade

embora eu seja de Coimbra, prefiro o Porto a Lisboa

beijos

Anônimo disse...

:)
:)
como diz um poeta que muito admiro, Jorge de Sousa Braga "Esta cidade não é uma cidade, é um vício"
*
*
Consigo perfeitamente entender esse teu deslumbramento por essa cidade que tu sabes que é mágica para mim; quando me telefonaste e dizeste que estavas na Foz, fiquei com um nó na garganta por estar a kilometros de distância daí.De tudo que aqui descreves tenho boas recordações de quando as visitei pela primeira vez.


...Só nã conheço essa casa na Ribeira "Versos na pedra", mas fica aqui a promessa que deixarei lá o meu :)

Anônimo disse...

Para quem aprecia, as melhores francesinhas do norte, são em Braga, no Atrium Café. Já vi um folheto deles, e até as coordenadas GPS eles fornecem: LAT 41:32:54N (41.548323), LON 8:24:10W (-8.402781). Eu recomenda. Fica perto da zona Makro, em Lamaçães, na zona dos hipermercados.