terça-feira, 20 de maio de 2008

... e pra não dizer que não falei de flores...

As maias trazem a primavera


Até 21 junho é oficialmente primavera em Portugal. Tempo em que, segundo o meu amigo Tiago Videira, fica tudo verde. Seria então primaverde ou verdevera? Este ano as esperadas chuvas, segundo me dizem, têm sido abundantes e tardias; aguardadas em abril, desaguaram mesmo em maio, só para contrariar o espírito do abril-águas-mil.

Dois brasileiros muito catitas, os gaúchos Kleiton & Kledir, já disseram que na terrinha o bom é "voltar na primavera, era tudo o que eu queria! Levo terra nova daqui... Quero ver o passaredo pelos campos de Lisboa... Voa, voa, que eu chego já!..." *

Pra mim Portugal foi, sim, primavera - com muitos altos e baixos: uns dias de sobretudo de lã e outros de sol ardente. Quem diria que eu, friorenta e brasileira, iria queimar-me numa simples caminhada por uma quinta do Douro, por volta de duas da tarde? Desandos primaveris daqueles que se decidem no Olimpo, por pura diversão dos deuses... Deu para ver os jacarandás floridos que inundam Lisboa com seu odor arroxeado. E deu para encolher e tiritar nas madrugadas da Ribeira, entre francesinhas enormes, verdadeiras francesonas, e sanduíches (ou sandes, como eles dizem) inesquecíveis de morcela.

Tiago me conta que as primeiras flores da primavera são as maias, também conhecidas como giestas. Essas primas amarelas das nossas palmas de Santa Rita anunciam a estação em simbólicos raminhos colocados em cada casa, para que nunca falte o pão. Ou para para proteger, acolher e iluminar. As lendas são muitas, mas a que mais me comove é a da Sagrada Família: consta que uma cidade da Galiléia estava apavorada com a matança anunciada por Herodes, que queria a todo custo
exterminar Maria, José e o Menino. Um de seus soldados, então, sugeriu à população que marcasse com um ramo de giesta a casa onde eles estariam escondidos, para evitar que todos os outros fossem exterminados. No dia seguinte, ao chegarem à cidade, as tropas do rei se surpreenderam ao ver ramos de giesta em todas as casas do povoado, resistência feita de solidariedade.

O amarelo das doces maias, em meio ao verde, tem um vento de alegria embutido. É porta-voz de um retemperar, um desabrir, um florescer que emoldura as inevitáveis mudanças que cada tempo nos traz. E aqui vou citar, com a devida vênia, um comovente texto postado pelo Sr. António, do blog A Minha Aldeia, que dá conta do valor que as pequenas coisas da tradição têm para renovar os espíritos a cada estação. Está aqui do jeitinho que ele escreveu, como uma homenagem não só a ele mas também à sua Casal de Loivos, aldeia saborosíssima que tive o enorme prazer de conhecer.

Sexta feira, 4 de Maio...Acabo de chegar á minha casinha da aldeia e deparo-me com um pequeno ramo de giestas, com florzinhas amarelas, colocado no puxador da porta da sala...estranho, pensei! Subo e junto á porta da cozinha, mais um raminho de giestas!...Mau...que se passa aqui? Já era de noite, não deu para pensar mais no assunto, mas na manhã seguinte constatei de que todas as portas e portões da aldeia também tinham os seus raminhos!...Alto, já estou com a minha gente! Admito a minha ignorância, o meu desconhecimento de certas tradições que já entraram de desuso em muitas regiões, mas aqui se mantêm bem vivas! Segundo me explicaram então, no dia primeiro de Maio, são colocadas nas portas das casas os tais raminhos de giestas em flor...porquê? Porque segundo rezam também as tradições, quando a Nossa Senhora fugia aos maus com o Menino, todas as pessoas boas colocaram nas suas portas o respectivo raminho como sinal de que ali viviam pessoas em quem podia confiar, e como tal Nossa Senhora poderia bater em qualquer uma das portas que seria bem recebida! Porta que não tivesse raminho era de certeza de pessoas más, não convinha entrar!...como não me encontrava na aldeia no passado dia 1 de Maio, tenho a agradecer a quem me colocou os raminhos nas minhas portas, sinal que me consideram uma pessoa boa...mas afinal aqui na aldeia de Casal de Loivos, todas as pessoas são boas!!Obrigado por me considerarem da terra!

Que este ano nada falte à primavera portuguesa: nem beleza, nem sonhos, nem amores febris - e muito menos flores, giestas e tantas outras, por toda parte. E que o tempo sorria muito, sempre, para contagiar toda a gente.

* Trecho da letra da canção "Vira virou", de Kleiton & Kledir, uma bonita homenagem a Portugal.

5 comentários:

Anônimo disse...

E na Cidade "Inbicta" quando começa a Primavera,começam a florir Camélias ou Japoneiras, nome dado pelo facto destas terem sido trazidas do Japão directamente para o Porto

;)

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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