terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Ar-de novembro

Uma fábula sobre as coisas do amor

Foto: Klebson Carneiro

Sol, sol. Ahhh, calor... ah coisa boa, delícia esse vento que finge que esfria mas na verdade abafa a pele. Difícil até pensar, se pudesse dormia um pouco mais depois do banho, até que não suei muito pelo tanto que caminhei... água, água, chuveiro frio, escorre o sal do corpo, o sal da memória da praia. Gostava talvez de viver assim tão perto do mar... chega a ser indecente, intimidade demais com a areia, o vôlei, os cães, cadeiras e toda a gente, principalmente as meninas de traseiros ao léu, despreocupadas, deliciosas.

Portuga espreguiça a vontade em pleno sol de meio-dia, olhos baços metidos no mar, para além da arrebentação onde só vê o alto-contraste do sol contra a água, brilhos muitos que pulam, diminutos canoeiros a remar no fio do horizonte, o malemolento chuá-chuá das ondas que vêm, que vão. No ritmo do dia segue para o chuveiro, olhos fechados de prazer enquanto a água faz o seu trabalho: acordar cada centímetro de músculo e pele aferventados pelo sol da caminhada, pêlos eriçados, os reflexos a abandoná-lo pela melhor oferta.

A muito custo, veste-se. Calça e camisa do uniforme, sapato e meia. Hora de trabalhar, embora nessa cidade isso às vezes me pareça impossível...

Nunca gostei mesmo de sala de bate-papo. Cruz credo, isso não. É a décadence de la décadence!... Foi só um email, mas tão simpático, altos elogios... nem sei porque respondi, na hora pensei, que bom, alguém me leu e gostou, que atenção... sim, confesso que gostei. E depois, tantos mínimos detalhes, um certo jeito para contar coisas, revelar-se de mansinho... acreditei!... Brasuca era romântica de fundos suspiros, dessas que não se usam mais. Conseguia ver brotos de flores surgirem entre os bytes. Nem no espelho percebia a meia-idade a avançar, inexorável, com manhas de gato-de-botas, entre os quilos extras e a vontade de dançar.

- Mas foi só um email!...

Sim, o Portuga mandou o email, inebriado pelas palavras e pela antevisão de um corpo que as viesse acompanhar... ah, o vício pelas mulheres de todo e qualquer mar...

[Continua]

3 comentários:

Orlando Gonçalves disse...

Fico esperando a continuaçao. Beijos muito grandes

bruno cunha disse...

qual será o seguimento deste caso amoroso, com um oceano pelo meio?
estou curioso

Anônimo disse...

achei que este poema do Lobo Antunes vinha a calhar:

"Estou aqui como se te procurasse
a fingir que nao sei onde estás
queria tanto falar-te e se falasse
dizer as coisas que não sou capaz.
(..)


***
desejo-te um ano repeleto de mísica brilhante e tudo o mais que possas imaginar :)

C.