sábado, 13 de outubro de 2007

Ternuras e telemóveis

Pelourinho de Coruche - Foto: Portuguese Eyes - Flickr

Ainda agora eu estava aqui em casa, trabalhando em minha mais recente tradução, quando o celular tocou. Levei um susto: era a minha amiga Maria João, a portuguesa mais brasileira que conheço, que está em viagem pela terrinha. Antes de pronunciar qualquer palavra, deixou aberto o som ambiente - e uma voz inconfundível inundou a linha telefônica, a jorrar a lindissima Maçã de Junho. Minha amiga estava num concerto do Jorge Palma, na cidade de Coruche, e quis dar-me aquele momento de presente.

Feliz, emocionada, pus-me a pensar no grande bem que pode fazer a tecnologia, quando bem usada.
As pessoas falam em escravidão tecnológica, metem o malho nos celulares e computadores, mas se esquecem de uma coisa elementar: quem os usa é o homem. Só a gente é capaz de acertar ou errar, ser carinhoso, gentil ou grosseiro. Nunca os aparelhos. Hoje a minha amiga fez um uso amoroso do equipamento, e o que recebi foi, na verdade, o seu afeto traduzido em música.

Logo que cheguei a Portugal, comprei um telemóvel - o nome que os portugueses dão ao celular. Tenho de admitir que faz o maior sentido: celular quer dizer apenas que "funciona com célula", mas telemóvel define logo a função do instrumento. Os baratíssimos cartões para orelhão e telefone fixo, com seus milhões de números para digitar, são excelentes, mas infelizmente não servem para receber chamadas. Comprei um desbloqueado, para depois usar por aqui sem problemas, só trocando o chip.

O simpático aparelhinho foi-me muito útil em todas as minhas andanças desencontradas. Juntou pessoas, consolidou amizades e fez-me sentir um pouco parte de tudo o que vi e vivi.

Pode haver ternura num email. Essa versão moderna da carta tem apenas um inconveniente e muitas vantagens: não se pode escrever à mão - mas em compensação não é preciso esperar dias e dias pelos correios. E quando a resposta chega (às vezes em minutos) a gente fica feliz do mesmo jeito que ficava antigamente, quando o carteiro nos depositava nas mãos aquele envelope que tanto aguardávamos. O que importa, afinal, é o conteúdo, é "ouvir" palavras de alguém que se quer bem, é poder dizê-las na mesma. E sentir-se perto quando se está longe.

Gosto de me sentir perto de um Portugal feito de pessoas lindas, humanas, com seus defeitos e qualidades. Gente como a gente, enfim... gente que sabe gostar e ser gostada. Que bom que a tecnologia ajuda - e às vezes, entre uma palavra e um carinho, é possível esquecer um pouco o Atlântico, as horas e horas de viagem, e simplesmente deixar o coração saborear o momento. Como agora.








3 comentários:

Orlando Gonçalves disse...

Pois é, esta coisa da tecnologia têm as suas vantagens, pelo menos em termos comunicativos. Mas por outro lado tornou-nos muito dependentes de muita coisa. Antigamente isso de que falavas, de receber cartas, caiu, hoje o que recebemos são as cartas do banco c/ o extratos e as contas da agua da luz e por ai fora. Perdemos a jeito de comunicar, não sei bem se será um bem, também cada vez mais as tecnologias fazem as pessoas e principalmente os jovens mais egocêntricos e a tornarem-se mais isolados da sociedade, outra das desvantagens da tecnologia, no meu ponto de vista. Bem mas é como tudo, enfim, também nós já não somos propriamnete uns jovenzinhos sabemos usar as coisas. Agora estas gerações mais novas não sei não... onde iremos parar.

Anônimo disse...

....
tb já me deram a ouvir assim e sei bem a emoção
:)

ÁguaDiCoco disse...

Coruche..essa bela localidade (expressão bem tuga! ;) )
Deve ter sido realmente bom um presente como esse.. E tendo um oceano no meio, ainda mais nao e? =)

Ah e telemóvel será uma das poucas expressões em que a "nossa" faz realmente mais sentido...rs