sábado, 18 de julho de 2009

É abril e ganhei um cravo de lã!

26 de abril de 2009... o cheiro de Lisboa de novo, após uma histórica noite mal dormida no querido - embora apertado - avião da TAP. Sou boa de poltrona, mas dessa vez foi duro de verdade. A aeronave era mais moderna que a de dois anos atrás; tinha até tela exclusiva de cinema na minha frente, mas... ai! Minhas pernas não cabiam direito em nenhuma das alternativas disponíveis para eu me situar no espaço da poltrona. O resultado foi uma sucessão de cochilos sem-vergonha, mas aquele sono gostoso, que relaxa e descansa, não chegou mesmo.

Mas havia Lisboa à minha espera, e tudo valia a pena.

Amália, o filme, foi o presente da noite, na tal telinha exclusiva. Excelente, dramático, forte. Como é que arrumaram uma atriz tão boa e tão parecida com a Amália, eu não sei. Mas entre os fados, a bela fotografia e a produção de primeira, aprendi mais um pouco sobre aquela mulher tão extraordinária e tão capaz de, de fato, encarnar o seu país.

Em terras firmes lusitanas, manhã já alta, espera longa na fila para pegar as malinhas gêmeas, azuis e com seis rodinhas, que comprei especialmente para a aventura européia 2009. Numa delas amarrei o cravo de lã que, em homenagem ao 25 de abril, a companhia aérea me enviou junto com a passagem. Minha mala média, vermelha, tinha sido parte da fatura dos meus pecados em 2007; parecia crescer a cada trecho da viagem. Era insuportável trafegá-la de um lado para o outro! As pequenas, então, prometiam. E cumpriram: andavam sozinhas ao meu lado, eretíssimas, sem que eu tivesse de fazer esforço algum além de empurrar o suporte. Pena que a linda bolsa de mão, com a frente toda em camadas de couro bege, escorregasse sempre do meu ombro e vivesse às turras com a mochila do laptop... paciência. Quem tem alma de retirante nunca perde a trambolhagem...

Quando finalmente assomei à porta de saída, a Vera estava à beira de uma síncope. E por culpa minha, tal o medo - que lhe infundi - de que pudesse vir a cair nas garras desavisadas da xenofobia que tem acometido as alfândegas européias, e da qual os brasileiros têm sido alvos fáceis. Claro que tinha tudo o que o chamado "espaço Schengen" exige para alguém entrar lá: mínimo de 40 euros para cada dia de viagem, seguro-saúde, endereço fixo (o dela), termo de responsabilidade (assinado por ela) ... mas nunca se sabe.

A longa, desconfortável e sinuosa fila de espera para passar pela Imigração parecia não ter fim: todos de pé por horas, crianças, idosos, deficientes, mulheres grávidas. Dentro da mais perfeita lógica portuguesa, todos os aviões procedentes do Brasil e da África - e são incontáveis! - chegam rigorosamente no mesmo horário. Os passageiros, obviamente, são uma enormidade em relação ao número de atendentes.

Do meu lado vi uma criança de uns nove, dez anos, empalidecer progressivamente, até que a mãe gritou e a família foi resgatada da fila para um atendimento especial. Foi então que vislumbrei uma moça gravidíssima e avisei a atendendente, que tomou providências.

Foi o primeiro momento em que atentei para um tema do qual tratarei mais amiúde por aqui: a síndrome de primeiromundismo que acomete muitos brasileiros que fazem questão de diminuir a terra-mãe. Se aqui no Brasil até em supermercado tem fila para "idosos, gestantes, pessoas com necessidades especiais", por que é que na Imigração portuguesa não tem? Pois acreditem, não tem!

Vera chorou de alívio ao me ver. Vera é um delicioso paradoxo de gente: despachada, decidida, prática, resolvida... mas chora quando abraça uma velha amiga. Adoro isto! Adoro tê-la de volta em minha vida e poder retornar, de vez em quando, àquele mundo que construiu com a dedicação típica do seu caráter e talento.

No caminho de casa, foi me atualizando sobre tudo e todos. Pouco mais tarde, teria um delicioso primeiro dia da velha rotina do bairro de Santos.

Mas isto conto outro dia.

Um comentário:

Anônimo disse...

...e começam as crónicas :)


Cris