quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Portugal no Natal

Ah, se Belém fosse em Portugal...
(cartão-postal tomado emprestado do blog Aldeia de Gralhas)

Minha amiga Vera Matagueira, brasileira e carioca, emigrou pra terrinha faz quase meio século e diz que não pode mais imaginar um Natal no calor. É... pra quem passou a vida colocando algodão nos galhos da árvore de Natal para imitar neve, como é o meu caso, a idéia de um Natal no Pólo Norte parece algo distante, ainda que as imagens façam parte do todo da memória natalina.
Em Lisboa, meu amigo Tiago Videira sente frio; o aquecimento central do moderno prédio onde mora está preso em intermináveis obras e o miúdo, que é magrinho, afunda-se em agasalhos e mantém um aquecedorzinho doméstico aos pés. O Ramiro, que além de amigo é meu mais recente parceiro literário, foi passar as festas em Avis, sua terra natal plena de tradições.
Teresa, uma portuguesa arretada (se é que isso existe) que vive aqui há mais de 30 anos, ainda faz Bolo Rei com prenda e tudo, enquanto em Portugal, o excesso de zelo da fiscalização sanitária proíbe oficialmente a tradição. Ramiro, aborrecido com esses desmandos politicamente corretos, afirma que o famoso leitão à Bairrada também anda "proibido" pelos mesmos motivos.
Uma das coisas que mais me encantam no Portugal "de dentro", aquele das estradas vicinais estreitas que margeiam delicados olivais, é a capacidade de parar o tempo. Recorda-me aqueles livros antigos, com desenhos a bico-de-pena de pastores, ovelhas e crianças de calções com suspensórios e meninas de lencinho na cabeça, exatamente como os do postal acima. Adoro isso; num território relativamente pequeno é possível estar entre o ano 300 a.C e o século 21. Os lugares são bonitos, a gente é doce e sincera na maior parte, é uma estranha sensação de estar em casa sem estar.
Não conheço o Natal português, mas sei que não tem castanhas; essas estão reservadas para o dia de São Valentim (perdão, Cris, São Martinho). Sei também que a mesa é farta e bem posta, com muitas cores e segredos culinários que normalmente não conhecemos. E que as tradições católicas da nossa infância ainda ocupam lugar de destaque em muitas partes.
Não vi as vitrines, mas sei que há uma árvore prima-irmã da nossa - a da Lagoa, que tanto faz sonhar. Registre-se aqui que a tecnologia é importada do Brasil, mas afinal, grande parte do sangue é o mesmo, apesar de sermos nós os campeões da miscigenação que dá cor e sabor à nossa vida.
Sei que a Cris, em Figueira da Foz, a Soraia e o Tiago no Porto, o Pedro em Braga, a Silvia em Guimarães - e em Lisboa o Jorge e a Rita, o Vicente e o Francisco,
a Paula, o Marco, a Vera Matagueira, o Faria e a Sandra, a Ana, a Carla, a Isabel, o Orlando, o Nuno, o Tiago Videira, a Vera Silva, o João Paulo com a esposa e a filha, a Milocas e o João, estão todos curtindo hoje o chamado "enterro dos ossos" - o almoço do dia 25, onde a ceia da véspera ainda reina absoluta. Já em Portugal as sobras do dia seguinte atendem pelo nome de "roupa velha".
Daqui do calor e apesar das chuvas, mando o meu mais caloroso abraço a Portugal e aos lusos que mandam no meu coração, no Natal. Queira Deus que em 2009 eu possa estar por lá mais uma vez!

3 comentários:

Anônimo disse...

Claro que virás :)
Ahh e nao éno S. Valentim,mas sim no S. Martinho ( as castanhas)
:)

C.

bruno cunha disse...

olá, é só para dizer que continuo vivo e até tenho escrito algumas coisas no meu blog

tudo bem contigo?

bjs

Anônimo disse...

Olá!
Ouvi falar sobre esse "excesso de zelo da vigilância sanitária" em Portugal (que vc tb mencionou em um dos posts) e gostaria de saber mais a respeito. O que exatamente está sendo exigido e proibido? Poderia me mandar informações (notícias de jornais, comentários etc)?
obrigada,
Luciana Lana