sexta-feira, 16 de maio de 2008

Palmas pra quem???


Bem sei, caros leitores, que Portugal não é só Jorge Palma, embora Jorge Palma seja "muito Portugal". Mas é inevitável, mais uma vez, voltar a ele - por orgulho e também por indignação.

Orgulho por vê-lo conquistar o Globo de Ouro de melhor intérprete. Mais que merecido, esse prêmio era quase uma dívida para com esse que talvez seja o maior entre os maiores da sua geração. E que descortina um Portugal novo e único, do ponto de vista da sua música, para quem quer que o conheça, em qualquer lugar do mundo.

Indignação por ter assistido a um ato feio, menor e inqualificável, por parte de um apresentador que conseguiu estragar e distorcer a merecida festa do artista, na noite do prêmio. E como essa pessoa não merece sequer que alguém se ocupe dela, não mencionarei aqui o seu nome.


Inveja é uma coisa triste. Só tem inveja quem é menor e gravita, portanto, entre os sentimentos menores e mais mesquinhos. Gente assim não hesita em agredir, prejudicar, degradar e menosprezar qualquer pessoa que ameace brilhar mais do que ela.


Foi isso o que a criatura tentou - e até com algum sucesso - fazer da entrega do Globo de Ouro ao grande Jorge Palma. Que, contente como uma criança, com seus olhos verdadeiros e o passo inseguro que é um de seus encantos, subiu ao palco só para ser feliz.

Mal chegou, foi logo atirado ao chão pelo elemento que, numa tentativa atabalhoada de "carregá-lo em triunfo", meteu-se no meio de suas pernas e o desequilibrou. Vale destacar que Jorge Palma estava, naquela noite solene, em sua melhor forma e nem sequer ensejava as habituais piadinhas de mau gosto que alguns gostam de fazer sobre um possível estado etílico.

Sorrindo, Jorge se levanta, vai ao microfone, agradece. Coloca o troféu ao ombro e brinca: - Isto pesa... A platéia se emociona. O infeliz, porém, não desiste: levanta afinal o Jorge aos ombros, dá duas voltas supostamente olímpicas com ele. A apresentadora, pressentindo o pior, pede "Música!".

E poderia ter ficado assim, só que o animal não deixou: empurrou o Jorge para o chão, insistindo para que continuasse a falar no microfone que, na primeira trapalhada, tinha sido quebrado. E Jorge, por ser de uma adorável inocência ou por acreditar no ser humano, aquiesce. E o que faz o intruso? Retira-o do palco pelos pés! Pelos pés!

Tive vontade de chorar. De raiva e tristeza. No entanto, muita gente riu, pois há quem tenha mesmo prazer em rir dos outros. Era com isso que o individuo contava. O que mais me chocou, porém, é que a imprensa portuguesa mordeu a isca e favoreceu o perpetrador de toda aquela barbaridade. "Brilha", "salva" e outros verbos benevolentes deram a tõnica das matérias que atribuíram tonalidades "heróicas" à extrema e refinada maldade do cidadão.


Jorge Palma é um grande artista português. E um grande artista do mundo. É também um dos seres humanos mais doces que existem, um cavalheiro, uma das mentes mais lúcidas que Portugal já produziu. Como é que alguém que não lhe chega ao tornozelo, artística e humanamente falando, se acha no direito de roubar-lhe a alegria da conquista de um prêmio?

Que me perdoem os bem-humorados de ocasião, mas não há que confundir brincadeira com desrespeito, gracinha com achincalhe, piada (de mau gosto) com humilhação.

Com certeza, o Jorge Palma é muito mais que isto. E há de ser sempre lembrado por sua grandeza e talento. E o que é, diante disso tudo, um ataque de venenoso exibicionismo numa noite de prêmios? Um nadinha... que a habitual fraca memória das massas há de logo enterrar.

Ave, Jorge Palma!

2 comentários:

Anônimo disse...

Já te disse Bravo por este texto, mas apetece-me dizer-to outra vez
:)

Orlando Gonçalves disse...

Eu repito o que o anônimo disse em cima, Bravo amiga, Bravo.
Homens como o Jorje só encontro o grande Ary dos Santos, como poeta.
Muitos parabéns pelo texto.