Brasil e Portugal - Foto daqui
O velho costume que os brasileiros têm de contar piada de português é uma tradição imorredoura. E nós nos divertimos com isso, sim! Desde que era pequena escuto piadas que têm como personagens os patrícios. Meu tio Celeste, então - uma figura inesquecível - era mestre em contá-las. Algumas eram mesmo longas e intrincadas para o entendimento de uma criança pequena como eu na época, mas mesmo assim eu gostava (mas essas conto outra hora, porque é preciso reconstituí-las com a ajuda da memória da família).A lógica portuguesa, numa tradução bem-humorada, é o entendimento que eles têm (em geral diverso do nosso) de determinadas situações ou circunstâncias. O Alvaro, um grande amigo e ex-colega de trabalho, filho de portugueses, além de imitar à perfeição o sotaque lusitano, é capaz de cometer muitas piadas. Tem uma adorável, para mim um grande exemplo da dita lógica: o brasileiro, hospedado num hotel em Portugal, desejava mandar flores a alguém no domingo. Dirige-se então à floricultura na sexta-feira e pergunta:
- Vocês fecham aos domingos?
- Não, não fechamos - é a resposta. Satisfeito, retorna ao hotel.
Na manhã de domingo, após o café da manhã, sai todo contente rumo à floricultura - e encontra a loja fechada!
Na segunda-feira chega cedo à loja, muito aborrecido, para reclamar.
- Não entendo - bufa. - O senhor me disse que não fechava aos domingos, no entanto vim aqui ontem e dei com o nariz na porta! O que é que o senhor me diz?
- Meu caro senhor, é verdade: não fechamos aos domingos!
- Mas como não fecham? Ontem estavam fechados!
E o homem, com toda a convicção:
- Não fechamos aos domingos porque não abrimos!
Para ele, isto é lógico; para nós, não. Para um brasileiro, "não fechar" uma loja significa mantê-la aberta, só isto.
Pude constatar, recentemente, que a lógica portuguesa pode ser contagiosa. Não, não é piada, embora tenha lá a sua graça. E aconteceu comigo.
No outro dia, pedi a uma amiga de Portugal que fizesse um pagamento para mim na terrinha, mediante o recebimento de uma quantia que eu lhe enviaria pelo rapidíssimo sistema Western Union, via Banco do Brasil. Ela então resolveu fazer o pagamento de uma vez, visto que o dinheiro levaria apenas 20 minutos para chegar a Portugal, pelo sistema que escolhi.
Fui ao banco e, já experiente nesse tipo de remessa, enviei o dinheiro rapidinho, peguei o comprovante e tirei o assunto da cabeça.
Uns quinze dias depois, recebo dela um email todo tímido, perguntando se "tinha havido algum problema", pois não recebera nada. Passado o susto inicial (ai meu Deus, onde é que esse dinheiro foi parar?), lembrei-me de perguntar se ela já tinha ido aos Correios buscar o dinheiro (é assim que o sistema funciona). Disse-me que não, que estava à espera de que chegasse algum papel ou coisa que o valha.
(Ahhhh..., pensei eu, com um leve risinho de complacência). Lembrava-me de ter dito que ela precisava ir aos Correios.
No dia seguinte, outro email: - Olha, deram-me um lindo formulário onde preciso inserir um código...
- Ah, desculpa!... Claro, o código!
(Ai, que vergonha! Que nem o espelho veja quão vermelha devo estar!, pensei, imaginando no rosto dela um riso igual ao meu da véspera).
Corri à pasta de documentos, copiei o código, meti num email e mandei. No dia seguinte, num correio intitulado AS TOTÓS - CAPÍTULO FINAL, informou-me que recebera condignamente o dinheiro, sem qualquer delonga.
Moral da história: é bom não prejulgar a lógica portuguesa alheia, pois ela pode estar mais dentro da gente do que imaginamos.
2 comentários:
Olá querida Maurette,
Muito bom estar aqui neste espaço onde claramente declaras teu amor pelos portugueses. Junto-me a ti nesse amor por eles. São uns queridos.
Conte comigo para ler teus posts pois como sabes sou fã de tua escrita.
Um beijo.
PS. Neste meu comentário, qualquer semelhança com a forma de escrever dos portugueses não é mera coincidência.
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