Tenho um amigo que é a própria poesia em figura de gente. E é poeta até nas pequenas coisas, no mais prosaicos detalhes do dia a dia. Amo ouvir as suas histórias, que sempre dão cores novas a qualquer circunstância, por mais ínfima que seja.
Pois outro dia conversávamos de madrugada, ao seu melhor estilo notívago e romântico; hospedado num excelente hotel no Algarve, contou-me que, naquela manhã, recebera em seus aposentos uma inusitada visitante.
Tinha acordado um pouco mais tarde; pediu o café da manhã no quarto (para os portugueses, pequeno almoço) e estava a fazer a barba quando foi surpreendido por ninguém menos que uma gaivota, ao vivo e a cores.
- Fiquei surpreso! E é um bicho grande, sabes? De repente lá estava ela pousada, olhando para mim tranqüilamente.
A figura entrou pela varanda e serviu-se, sem qualquer cerimônia, de alguns acepipes do desjejum do meu amigo.
- Logo que a vi, senti que se chamava Pimpinella!
(Só mesmo ele para sair-se com um nome assim).
Pimpinella, recém-batizada, bateu as asas e voou, mas voltou pouco depois e ficou a fitar o meu amigo com olhos compridos de mar. Ele ficou impressionado com o tamanho e a pachorra da criatura.
- Pimpinella, olá!
Dali a pouco, voou de novo. E quando ele já estava a sossegar, eis que ela retorna, como se a casa fosse mesmo sua!
- Eu já estava pensando em dizer, “Olha, senta-te aí, aceitas algo mais?” – ria-se, divertido e intrigado com aquele vai-e-vem. (A essa altura penso eu que já estava maquinando dedicar-lhe alguma canção trovadoresca.)
Pimpinella passeou as amplas patas pelo quarto, as asas bem organizadas, o mesmo olhar cheio de lonjuras. Não se interessou mais pelo pequeno almoço, que já ia à metade; e quando finalmente decidiu partir, deixou como lembrança uma discreta caganita no beiral da varanda.
- Podes imaginar um bicho desses assim, à-vontade, no quarto da gente? – admirava-se, sempre a rir muito. – Acho que amanhã vou pedir uns extras no pequeno almoço, sabe-se lá se não resolve voltar?
Imagino Pimpinella de volta ao bando, a contar para as outras gaivotas sobre o seu amoroso encontro com um autêntico membro da espécie poética.
- Gostei do sujeito – decerto diria, em idioma gaivotês. – Não me enxotou, correspondeu aos meus olhares, nem se incomodou por eu ser uma simples ave! Até falou comigo! E deixou-me comer à vontade! Aquele, sim, é o que os humanos chamam um cavalheiro! Sei lá, talvez vá visitá-lo de novo... e nem sequer sei o seu nome...
9 comentários:
Que episódio tão bonito e bem contado! Maravilha! Tu é que és uma trovadora! :D
Bela foto e belo texto;)
"De um momento para o outro pode entrar um pássaro que levante o céu"
Alexandre Ó´Neill
:)
Continuo apaixonada por esta foto lol
Mais um texto lindo!
Quando sai o livro de histórias por Maurette Brandt hein...?
Eu compro!
E não estou a ser simpática.
olá!
já há uns tempos que não vinha aqui mas adorei este conto e tb a crónica sobre o pedro abrunhosa...
beijinho
ps: ultimamente tb tenho escrito algumas coisas no meu blog...
;)
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